Crônica - Verão de '88
São Paulo, 27 de outubro de 2010.
Peguei-me observando minha prateleira da cozinha. Havia copos de vidro, de plástico e até canecas de porcelana. Peguei-me, também, lembrando de como minha vida mudou depois de um certo evento com minha família, então um sorriso maroto brotou no canto de meus lábios.
Era verão de 1988. Meus pais, meu irmão mais novo e eu estávamos fazendo “pique-nique” no parque central de São Paulo. Aquele lá do Ibirapuera. Mamãe tirou uma garrafa escura, estranha de dentro da bolsa de palha que ela carregara no ombro o caminho todo. Olhei com aquela expressão de nojo e de medo ao mesmo tempo. Creio que ela percebeu, porque olhou para papai e começaram a rir.
– O que foi, Duda? – mamãe sorria ternamente. Encolhi-me em meu lugar, com medo daquela garrafa suadora, que parecia estar me encarando. Aquela coisa branca escrita parecia mais um olho, que me observava atentamente.
– Por que essa cara? – papai puxou um abridor de garrafas do bolso e colocou sobre a tampa da garrafa misteriosa.
– Para que isso serve? – apontava para a misteriosa garrafa.
– Para nos refrescarmos, oras!
– Eca! Eu não vou beber isso! Parece aquela água que sai quando o papai lava a churrasqueira! – tapei a boca e o nariz, no intuito de nem sentir o cheiro. Muito menos beber.
Porém papai colocou aquele... Treco! Aquele “treco” na boca, e eu podia senti-lo deslizando por minha garganta, conforme o gogó de papai se mexia. E me refrescando de certa forma. Eu estava praticamente babando para tomar aquilo! Parecia tão refrescante...
– Vamos, Duda. Beba! – mamãe sorria. Mais ria que sorria, na verdade.
– Certo... – tomei a garrafa gélida, suadora e escura, em mãos e logo o gargalo estava entre meus lábios, forçando-me a colocar todo aquele líquido para dentro.
E não me arrependi.
Parecia que eu tinha perdido toda uma vida longe do paraíso. Aquele toque macio, gelado daquele refresco que mamãe tinha me dado era... Completamente perfeito! Como eu pude ficar sem aquilo por tanto tempo?
– E aí? Gostou? – mamãe brindou-me com outra garrafa de vidro.
– Por céus, o que é isto? – tomei mais goles, sem conseguir me controlar.
– É Coca-Cola.
– Coca... Quem?
– Coca-Cola! – papai segurou minha irmã quando ela estava quase pegando a última garrafa.
E foi “amor a primeira vista”, desde então a tal de Coca-Cola. Aquilo que me parecia algo tão estranho, passou a fazer parte da minha vida. Nas minhas festas de aniversário, lá estava ela no centro da mesa junto ao bolo. Aliás, não só nos meus aniversários, mas todos que completavam anos na família, a primeira coisa que pensávamos era comprá-la, até mesmo antes do próprio bolo.
Os anos foram passando, e ela sempre me acompanhando. Nas minhas formaturas, confraternizações, entre outros.
Quando me formei no Ensino Médio, fizemos uma despedida em sala de aula, do tipo americano (onde nós comemos lanches de hambúrguer, panquecas, marshmallows e aquelas frescuras todas), e então cheguei com muitas, muitas garrafas de Coca-Cola. Dez ao todo, se não me falha a memória, para toda a turma. Todos se deliciaram com aquele maravilhoso refresco. E me agradeceram, por levar algo tão satisfatório.
Quando me casei, meu amado marido, Marcelo, custou em concordar com um pedido meu. Não que fosse lá muito normal trocar champanhe por uma taça de Coca-Cola. Ele demorou em aceitar, por conta da tradição, mas aceitou, e foi mais um dos momentos mais importantes da minha vida! Sei que posso parecer um pouco obcecada, mas é que ela sempre esteve presente na minha vida. Era sempre avidamente esperada em todas as ocasiões, sendo elas especiais, ou não.
Como todo Jornalista, tenho lá meus momentos de bloqueios criativos, então para ter grandes inspirações só com a minha Coca ao lado, sobre pilhas e pilhas de papel.
Alguns indivíduos supõem que ela seja um tanto quanto maravilhosa, e enxergo isto como uma grande deturpação. Particularmente, creio no que sinto e vejo. Penso que estas mesmas pessoas não sabem o real prazer da vida.
Bendita seja esta fórmula, conhecida mundialmente, a mais rica em publicidade, que nos faz delirar com seu sabor autentico refrescante, bendito verão de 88 que proporcionou à minha família um passeio maravilhoso, e bendita seja a minha mãezinha, Lidia, e meu paizinho, Marcos, que me fizeram experimentar, e conhecer algo magnífico que me acompanha até hoje. Assim como minha irmãzinha, Clara, que descobriu esse elixir dos deuses anos depois.
Relato e relembro nossa história com minha companheira ao meu lado.
Amo minha família e a Coca-Cola.
E o pequeno Daniel que está a caminho!
Eduarda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Tem alguma opinião sobre o assunto? Comente! Mas não se esqueça de manter a postura.